Netflix diz adeus a filmes e séries interativos do catálogo

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Netflix remove os últimos filmes e séries interativos do catálogo

O fim de uma era

A Netflix, gigante do streaming conhecida por suas inovações, acaba de tomar uma decisão surpreendente: remover os últimos filmes e séries interativos do seu catálogo. Esse movimento marca o encerramento oficial de uma era experimental iniciada em 2017, quando a plataforma lançou suas primeiras produções com escolhas interativas. Os dois últimos títulos a sair foram Black Mirror: Bandersnatch e Unbreakable Kimmy Schmidt: Kimmy vs. the Reverend, encerrando de vez esse capítulo ousado na história do entretenimento digital.

Bandersnatch, inserido no universo sombrio de Black Mirror, oferecia aos espectadores a oportunidade de tomar decisões ao longo da narrativa. Com múltiplos finais possíveis, o filme se tornou um marco na proposta de experiências imersivas. Já Kimmy vs. the Reverend levou o humor ao formato interativo, permitindo que o público moldasse o desfecho da protagonista. Ambos os títulos mantiveram-se como os últimos representantes de um formato que, embora inovador, não conseguiu alcançar um público massivo.

Apesar do interesse inicial, a verdade é que os filmes interativos da Netflix enfrentaram desafios técnicos e criativos. A dificuldade de implementação em todos os dispositivos, o custo elevado de produção e a resistência de parte da audiência contribuíram para a queda desse tipo de conteúdo. Com apenas 24 lançamentos interativos em quase uma década, o engajamento abaixo do esperado acabou pesando na balança.

Agora, com a Netflix redirecionando seus esforços para o mercado de games, o fim dos interativos parece menos uma surpresa e mais uma consequência lógica. A plataforma já anunciou investimentos significativos na criação de jogos próprios, alguns inspirados em suas franquias de sucesso. A decisão de encerrar os filmes com escolhas pode ser vista como uma reestruturação estratégica, voltada a formatos com maior apelo e potencial de crescimento.

Netflix encerra oficialmente sua fase de conteúdo interativo com a remoção dos últimos títulos.

Reações da comunidade

O anúncio gerou uma enxurrada de comentários nas redes sociais. Muitos fãs de Bandersnatch expressaram decepção, considerando o título um marco na história da plataforma. Para alguns, ele representava não só um experimento narrativo, mas uma nova forma de se relacionar com o conteúdo. Alguns chegaram a propor petições pedindo que o filme fosse mantido disponível — ou ao menos arquivado em uma seção especial para títulos interativos.

Outros usuários, porém, reagiram com mais ceticismo. Para esse público, os filmes interativos da Netflix nunca funcionaram tão bem quanto o streaming tradicional. A exigência de tomar decisões durante a exibição quebrava o ritmo da experiência. “Quando ligo a Netflix, só quero relaxar e ver algo sem precisar escolher o que o personagem vai fazer”, comentou um usuário no X (antigo Twitter).

A proposta de foco no universo dos jogos digitais também dividiu opiniões. Parte da comunidade acredita que a Netflix está entrando em um território já saturado, onde será difícil competir com empresas consolidadas como Sony, Microsoft e Epic Games. Até o momento, o histórico da empresa no setor é tímido — com lançamentos discretos e o fechamento de estúdios antes mesmo de jogos ganharem tração.

Ainda assim, a plataforma mantém planos ambiciosos. Jogos inspirados em Stranger Things, Round 6 e outras franquias populares estão em desenvolvimento. A ideia é transformar essas IPs em experiências multiplataforma, integrando o consumo de conteúdo com a jogabilidade.

O que vem a seguir?

A retirada dos filmes interativos não significa um recuo da Netflix na inovação — apenas uma mudança de rota. Ao investir no segmento de games, a empresa aposta em uma nova forma de engajamento com seu público, especialmente os mais jovens. Segundo comunicados recentes, mais de 50 jogos estão em produção, incluindo títulos voltados para celular e experiências mais elaboradas para consoles e PC.

Entretanto, entrar no mercado de jogos não é tarefa simples. O segmento exige altos investimentos, equipes criativas especializadas e tempo de desenvolvimento prolongado. Além disso, a concorrência é feroz. Para se destacar, a Netflix precisará oferecer algo que realmente adicione valor — não apenas versões jogáveis de suas séries famosas.

Do ponto de vista do entretenimento, essa transição também reflete uma mudança no comportamento do consumidor. O público atual busca experiências mais dinâmicas, com alto nível de interatividade, mas não necessariamente no formato de filmes com múltiplos finais. A popularização dos jogos narrativos e experiências híbridas aponta um novo caminho para o consumo de histórias — e a Netflix parece disposta a segui-lo.

Enquanto isso, os fãs mais nostálgicos ainda lamentam o fim de Bandersnatch e Kimmy vs. the Reverend. Esses títulos, apesar de poucos, marcaram uma tentativa corajosa de reinventar o modo como assistimos a filmes. Serviram como laboratório criativo para o futuro do entretenimento, e deixarão sua marca como pioneiros de uma linguagem que ainda pode evoluir em outros formatos.

No fim das contas, a história da Netflix é construída com base em experimentações. Desde o streaming sob demanda até as produções originais, a empresa sempre buscou estar um passo à frente. Talvez a era dos filmes interativos tenha chegado ao fim, mas isso não significa que a inovação acabou. Pelo contrário: o próximo capítulo já está sendo escrito, e provavelmente terá muito a ver com controle, escolhas — e jogabilidade.